ATACAMA -- DIA 4 - 400Km - Susques - Paso Jama - Susques - Purmamarca

Dia 4
Susques - Paso de Jama - Susques - Purmuamarca - aprox 400km

Hoje acordei mais tarde porque o frio de manha cedo aqui eh tremendo. Essa noite fez 14 graus negativo aqui no hotel (Susques), na noite anterior foi menos 13 e no sabado 33 graus negativo, ainda bem q nao estava aqui no sabado. A moto negou fogo umas 4 vezes pra dar a partida por causa do frio, mas ligou. O correto eh deixar ela esquentar 3 tracinhos no marcador de temperatura pra poder andar. Em Caxias nao demora mais que 3 a 5 minutos. Aqui a moto ficou ligada 40 minutos pra chegar nos 3 tracos. Entao sai as 8h30 de Susques com destino a Paso de Jama ja sabendo que o Paso esta fechado desde sabado por causa da neve (chegou a 60cm na estrada no lado argentino e mais de 1metro no lado chileno), mas como diz o velho ditado quem ta no inferno abraca o diabo, entao fui mesmo assim. Paso de Jama eh o caminho que corta as cordilheiras e la tem o posto de fiscalizacao que fica na base da cordilheira (na verdade fica a 4200m de altitude conforme o GPS) e fica a mais ou menos 15 km da fronteira fisica entre argentina e chile. O trajeto de Susques a Paso de Jama foi o lugar que mais senti frio na vida. Tive que parar duas vezes pra me esquentar. So o fato de nao ter vento da moto ja esquenta. O frio eh muito intenso mesmo, tinha neve na beira da pista em alguns pontos. Na parte de baixo , estou com duas calcas segunda pele (cada uma esquenta mais que um moleton), mais a calca especial com o forro, portanto quatro super protecao e na parte de cima tambem duas segundas peles, mais um blusao especial pra baixa temperatura, mais duas jaquetas impermeaveis especiais pra moto, alem de 2 tocas e mesmo assim o frio eh demais demais. Nao sei se o pior eh o frio ou ter q tirar quase toda roupa pra ir no banheiro hauheuhauhea. No trajeto de 120km que separa Susques a Paso de Jama, nao encontrei mais que 3 carros mas  encontrei o primeiro grupo de moto, e eram outros 3 locos do Brasil, da expedicao Fenix, de SP, que tiveram que dormir improvisado dentro do posto de combustivel em Paso de Jama pq nao havia mais acomodacoes. No momento que nos encontramos o termometro da BMW do cara estava marcando 6 graus negativos, sem considerar a sensacao termica a 120km/h. Mesmo sem estar sentindo o mal da montanha eles me deram umas folhas de coca pra mascar no caso de sentir alguma coisa. Um desses motoqueiros esta tentando atravessar o Atacama pela segunda vez, na primeira caiu por causa do ripio em uma curva, quebrou o cotovelo e hj nao conseguiu atravessar de novo.
A agua do meu camelback congelou no caminho. Cheguei as 11hrs em Jama e alem de abastecer fui pedir para a policia como esta a situacao do paso e por enquanto esta fechado. O proximo boletim saira a 13hrs. Decidi por esperar estas duas horas, juntamente com o restante dos viajantes para saber se sigo pra Sao Pedro de Atacama ou volto para iniciar o retorno pra casa. Pensei em seguir caminho pela Bolivia que esta relativamente perto daqui, porem la, esta acontecendo "el paro de los transportistas", ou seja greve dos transportadores, e diferentemente do Brasil, quando ha greve la, ninguem anda nas estradas sob pena de ser violentado, roubarem a moto, etc... O boletim das 13hrs veio dizendo q estava fechado mas que as 14hrs iria sair outro boletim. Entao ficamos la na aduana e no posto praticando o portunhol. Havia somente uns 10 carros sendo 9 do Paraguai e estavam indo pra Iquique (Chile) comprar carros usados que vem do Japao pra vender no Paraguay. La no Paraguay isso eh permitido pq eles nao tem montadora de veiculos. Eles tinham que chegar la no Chile de todo jeito pra conseguir escolher os melhores carros que vem dentro do navio que estava pra chegar. As 14hrs veio a terrivel noticia que o passo estara fechado pelo menos ate quinta (23/06) pela manha pois as maquinas que subiram ontem pra limpar a pista da Cordilheira dos Andes vao demorar esse tempo pra liberar passagem . Como ja falei nos ultimos 10 anos isso soh aconteceu 3 vezes, mas justo agora!?!?! Quando ouvi essa noticia ja coloquei as roupas e o capacete e comecei a voltar pra Susques enquanto os "muambeiros de carros" faziam os planos para, em caravana ir pela bolivia pra Iquique no Chile, por uma estrada de ripio (estrada de chao) para atalhar e desviar das barricadas dos camioneiros. Eu tinha que sair antes deles e andar na frente do comboio ate Susques pois nao estava vindo ninguem no sentido Susques para Jama, (em virtude do passo estar fechado) e so iriam voltar de Jama para Susques esses 10 carros, ou seja, tinha que ir na frente do comboio pra nao correr o risco de no caso de uma falha na moto ficar no deserto sem carona. Bueno, nos primeiros 20 minutos blz, consegui manter 160km/h quase direto ate que cheguei na regiao dos salares onde existe uma regiao plana muito grande dos dois lados da estrada, sem montanhas perto para quebrar o vento quando simplesmente uma rajada de vento facilmente acima dos 80km/h quase me jogou no chao, na hora baixei pra uns 70km/h e tive que ficar nessa velocidade com a moto andando de lado, fazendo um pendulo contra o vento. O problema eh q as vezes o vento parava e como vc estava em pendulo tinha q ficar ligado pra vc mesmo nao jogar a moto pra fora da estrada, e ainda, em umas 4 ou 5 vezes o vento veio na direcao a favor do pendulo, ou seja, o vento mudou de direcao e eu e o vento ficamos empurrando a moto para o mesmo lado, cada susto que levou a adrenalina la nas nuves e nao tinha como correr o risco de dormir em cima da moto por falta de oxigenio. Era um cenario de terror, a areia atravessando a pista muito forte, dava pra ouvir ela batendo no capacete e ver a nuvem de areia e por isso nao conseguia desenvolver uma velocidade boa. E foi quando o comboio me alcancou e me passou, que senti o maior medo da vida, pois estava naquela situacao sozinho, brigando com o vento e sabendo que nao podia errar pq nao viria ninguem atras pra socorrer. Nunca na minha vida senti tanto medo, e por uns 20 minutos fiquei me perguntando o que eu estava fazendo la....Essa foi a unica parte da viagem que senti perigo de verdade, mas passou. O medo passou quando entrei numa sequencia de curvas entre umas montanhas enormes, que protegem do vento entao consegui apertar o passo e alcancar o comboio. O deserto eh tao traicoeiro que de manha na ida a Susques nao tinha nada de vento, e a tarde este cenario que mais parecia uma tempestade de areia, loucura total. Abasteci em Susques e acelerei ate Purmamarca para dormir onde encontrei denovo os 3 Brasileiros. Estamos hospedados do mesmo hostel, fomos comer uma carne de llama(tipo dum guanaco). Amanha vou ter q voltar mais uns 200km para Salta ou Jujuy para obrigatoriamente trocar o pneu, que ja esta quadrado e nao da mais pra fazer curva direitinho. Amanha tbm vou ter que decidir se espero ate quinta uma resposta ou venho embora. Infelizmente tudo se encaminha pra voltar pra casa, sem chegar a San Pedro do Atacama, mesmo estado tao pertinho, menos de 150km. A Cris (minha esposa) esta me dando uma forca boa dizendo q se tiver que ficar mais 2 dias nao tem problema, mas tenho medo que a estrada feche quando eu estiver do lado de la das cordilheiras, em Sao Pedro do Atacama, ai so existe uma alternativa, deixar a moto em Calama, uns 200km do pacifico e pegar um aviao de volta e outro dia ir pegar a motoca. Por outro lado fico pensando no que deve estar de bonito o visual da cordilheira com muita neve, um cenario pouco visto pelo pessoal de moto especialmente do Brasil, afinal em quase todos foruns de discusao sobre esse trajeto ninguem aconselha fazer no inverno, apesar do paso estar quase sempre aberto. A frustracao de chegar tao perto do que vc sempre quis e nao poder alcancar seu objetivo por causa de uma coisa totalmente fora do teu controle eh absurdamente terrivel. Bueno, amanha vou ver o que vou fazer mas se subir as cordilheiras vou subir com os Brasileiros para ter companhia.